César Morán: “Pablo e Silvio, os dous “

César Morán: Cantautor, compositor e escritor

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Se entramos no blog do Silvio –Segunda cita–, ficamos comovidos ao ver que publica estes dias a letra de “Pablo”, uma canção inédita que escrevera em 1969 para o seu amigo Pablo Milanés, ambos os principais representantes da Nova Trova, unidos pola música, o discurso humano, poético, social e por uma intensa amizade (OnCubaNews). Eis a sentida homenagem de Silvio Rodríguez ao “maior trovador de todos os tempos”, como o chegou a qualificar em 2016 no programa “Otra vuelta de tuerca” de outro Pablo, Iglesias. Silvio incluiu a letra no Cancionero de 2008, e a canção, ainda que inédita, pode ser ouvida em gravação informal. Maravilha-nos o Silvio de apenas vinte e três anos nos versos iniciais (“Te conocí rasgando / el pecho de la muerte un día. / Tú no sabías nada / y eras tú quien la llevaba / de la mano”), ou nos finais (“Te conocí pegado / a la pared del cielo un día. / Ibas llevando entonces / bajo el brazo una guajira / y caminando, / caminando”. Mas entrando, como digo, na Segunda cita, comovem-nos as palavras da gente: “porque sé que te duele te abrazo fuerte hermano del alma…te quiero”, “… gracias por ser como eres… Me ha emocionado tu comportamiento…” ou “querido Silvio, profunda tristeza por la partida de nuestro admirado Pablo…”.

Pablo, que faleceu em Madrid, residiu na Galiza nos últimos anos entre a música, o amor e as doenças que o acabaram levando. O mundo não é perfeito e tinha mágoa de que as cousas no seu amado país fossem diferentes a como as desejava. Mas é bem fácil para muitos incidir nas diferenças de critério com o Silvio, pois nada é tão simples nem existe a quadratura do círculo. Sílvio também é crítico no seu discurso e mesmo pediu a liberdade e a amnistia para os detidos nos protestos do passado ano. E seja como fôr, mesmo quando a vida se pareça ao jardim dos caminhos que se bifurcam, acho que os dous artistas andaram à procura da coerência.

A primeira vez que os vim em concerto foi no ano 81 no pavilhão velho do Sar em Compostela. Estavam os dous, Silvio só com a guitarra, Pablo com grupo e a avultada cabeleira preta, primeiros anos da democracia burguesa que nos levou a onde agora estamos. Eu já conhecia alguns éxitos de Milanés como “Yo no te pido” (do disco No me pidas, 1978). Depois veu “Yolanda”, “Yo pisaré las calles nuevamente”, “El tiempo pasa”, o dramatismo íntimo de “Para vivir”. As canções de Silvio entraram-me de cheio no 79, de jeito que vê-los juntos naquele velho –que não breve– espaço em Santiago fora todo um evento, com Nicarágua, Guatemala e El Salvador ao fondo. Passado o tempo, estivemos no concerto de Silvio no Coliseum da Corunha em 2016, com grupo de jazz, esplêndido. Em 2018 Pablo no Campo da Feira de Cambre, impecável na voz, com piano e o cello de Caridad R. Varona. Mobilidade reduzida, já sentado, como o passado ano no “Auditorio de Galicia” em Santiago, Miguel Núñez ao piano e Caridad no cello e as vozes. Foi a última vez que o vimos.

(Publicado no número 530 de Sermos Galiza, o suplemento semanal de Nós Diario, sábado 3-12-2022)



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